“First, we shape the cities. Then, they shape us”
“Primeiro, nós moldamos as cidades. Depois, elas nos moldam”
(Gehl, Cities for People, 2010, tradução da autora)
Este trabalho tem como principal propósito o estudo da relação do pedestre com a cidade, comparativamente a outros meios de transporte, como os motorizados. Pretende-se avaliar, entender e argumentar como o ato de caminhar afeta a per¬cepção e concepção de espaço na sociedade, além de contribuir direta e/ou indiretamente para uma cidade mais segura, mais sustentável e melhor utilizada (Gehl, 2010).
Para melhor compreender a relação do pedestre com a cidade, almeja-se analisar a sua condição no mundo atual, focando o estudo em algumas de suas principais metrópoles globais. Busca-se entender a relação do ser humano com a cida¬de, e estender essa compreensão à nossa metrópole, questionando-nos como e porque uma rua movimentada é sinônimo de um grande fluxo de não motorizados, além de abordar a questão da segurança e da sensação de pertencer ao espaço urbano. Busca-se ainda responder a indagações conceituais, por exemplo, como perdemos na metrópole a escala do ser humano ao longo dos anos e nos entregamos a escala do automóvel e dos arranha-céus.
Este estudo ainda observa os impactos ambientais, econômicos e sociais causados pelo atual modelo de transporte, e como, a partir dos anos 1980, este modelo começou a modificar a concepção urbanística em algumas cidades, levando seus cidadãos a rever suas prioridades. A partir disso, passou-se a adotar medidas de moderação de trânsito (traffic calming), no intuito de (re)tomar os espaços públicos como espaços de convívio e de tornar as vias urbanas compatíveis com diferentes modos de transporte, além do individual (Urbes, 2010).
Nesta dissertação, disseca-se também o conceito de walkability, ou "caminhabilidade" e como sua existência vem de uma mudança nos paradigmas da mobilidade urbana . O modelo rodoviarista das cidades, vigente atualmente, já se mostrou ineficaz em muitos pontos e o ato de caminhar pode ser a solução para grande parte dos nossos problemas efetivos. Ao tentar se criar uma cidade amigável ao pedestre, tentamos nos reapropriar do espaço urbano muitas vezes ermo e mal utilizado, voltando ao conceito original de cidade - um espaço pensado para as pessoas e suas relações interpessoais.
Para isso, inicialmente fez-se uma grande revisão teórica do assunto, estudando propostas e revitalizações de grandes centros urbanos rodoviaristas ao redor do mundo, seus conceitos e suas aplicações. Também foram abordados estudos so¬bre as dimensões e resoluções dessas propostas no strictu sensu, como o problema das calçadas e sua responsabilidade, até o latto sensu, como a importância de um plano diretor que esmiuça a questão do pedestre, influenciando uma região. Através dessa análise bibliográfica, pode-se criar um compilado de leis e políticas públicas utilizado para incentivar o uso dos centros urbanos e comerciais pelos pedestres e criar propostas para implementá-las na nossa cidade, buscando, como dizia Hannah Arendt, a “coexistência em sua pluralidade infinita” (Arendt, 1958).
Logo após, retomou-se essas leis e políticas públicas citadas acima, focando a análise nas metrópoles que promoveram planos urbanísticos direcionados a pedestres e que foram bem sucedidas. Analisou-se até onde eles podem ser aplicadas na nossa grande urbes. Finalmente, fez-se um apanhado geral da condição do pedestre nos dias de hoje e da condição do pedestre na cidade de São Paulo. Sua facilidade de deslocamento, seus incentivos, seus principais eixos e motivos de locomoção.
Após levantamento, dissertou -se sobre a área de Pinheiros, que foi escolhida como modelo de análise e projeto. Este trabalho criou um masterplan a ser implementado na região, em que os meios de transportes não motorizados ganham o primeiro plano - e passam a tentar conviver harmoniosamente com os motorizados presentes no local - e tentam humanizar a área já tão movimentada. Neste, considerou-se o uso atual de cada polo da região e tentou se trabalhar para reforçar e melhorar sua função.
Tal masterplan é dissecado mais para frente, exemplificando como as principais vias e fluxos se encontram atualmente e como poderão vir a ser, com cortes, plantas e algumas perspectivas para entendimento.
Trabalho disponível em: http://issuu.com/taissacruz/docs/caderno_final_web