logofau
logocatfg
secao 4!

Memória e Identidade:

uma intervenção no complexo ferroviário de Valinhos, Vinhedo e Louveira

Thaís Almeida Marcussi

Beatriz Muagayar Kühl

A escolha do complexo ferroviário da Companhia Paulista de Estradas de Ferro nas cidades de Valinhos, Vinhedo e Louveira como tema e objeto desse trabalho final de graduação se deu de forma muito pessoal, como não poderia deixar de ser. Foi no decorrer dos vinte anos que morei na cidade de Valinhos, no interior do estado de São Paulo, que o contado cotidiano com o complexo ferroviário despertou minha curiosidade e admiração por essa arquitetura tão particular.

Infelizmente, a atual condição de abandono e descaso das edificações de apoio à ferrovia e o pouco uso dos trilhos ferroviários, em contrapartida à importância histórica e urbana deste complexo para as cidades no interior do estado de São Paulo, despertam ressentimento à população local, principalmente por se tratar de elementos que remetem a tantas memórias afetivas. À luz do conhecimento e experiências adquiridos durante os meus seis anos de formação na FAUUSP, tais sentimentos, que sendo eu valinhense, não poderia deixar de experimentá-los também, se transformaram em incentivo para olhar para esse complexo ferroviário de forma diferente, no sentido de encontrar potencialidades neste que claramente é um elemento estruturador do espaço, e assim propor uma intervenção arquitetônica.

O projeto de intervenção se dá em duas escalas distintas. Na escala da cidade, um projeto urbano e paisagístico, tratando todo o entorno do complexo ferroviário de forma a estabelecer uma melhor relação entre ferrovia e cidades e criar um sistema de áreas livres e de equipamentos públicos que restabeleça o eixo ferroviário como eixo de conexão entre as cidades do interior paulista. Na escala do edifício, projetos de restauração das edificações que serviram de apoio ao funcionamento da antiga Companhia Paulista de Estradas de Ferro, como estações, armazéns e cabines de comando.

Por se tratar de um complexo ferroviário, e portanto, um objeto de estudo no qual está intrínseco o conceito de continuidade e de conexão, o recorte desse trabalho não poderia se limitar apenas a uma cidade, como primeiramente pensado. No entanto, sendo o TFG um projeto desenvolvido ao longo de um ano, fez-se necessário estabelecer um recorte de área de atuação. A escolha das duas cidades vizinhas ao município de Valinhos foi baseada na minha leitura particular da relação que esses centros urbanos estabelecem com a ferrovia. As cidades seguintes, acompanhando a linha férrea, nas duas extremidades do recorte, são Jundiaí e Campinas, e foram consideradas muito distintas dos municípios escolhidos para estudo, tanto por seus portes, quanto pela sua condição urbana mais densa e próxima das ferrovias. Sendo assim, estas duas cidades determinam as delimitações do recorte do trabalho.

O trabalho se apresenta neste caderno dividido em quatro temas principais, organizados de acordo com as etapas de desenvolvimento do mesmo. O primeiro tema a ser apresentado é ama breve pesquisa do histórico da construção e funcionamento da ferrovia, com enfoque no trecho estudado. O objetivo deste capítulo é demonstrar a importância histórica e econômica da expansão da trama da Companhia Paulista de Estradas de Ferro para essas cidades do interior do estado de São Paulo. O material utilizado como base para a realização do capítulo foram os relatórios da própria Companhia Paulista de Estradas de Ferro que eram entregues aos acionistas da empresa em decorrência das assembleias gerais, que aconteciam uma vez ao ano. O segundo capítulo refere-se à relevância do complexo ferroviário no desenvolvimento urbano das cidades do recorte estudado, marcando profundamente a paisagem e a memória dos moradores desses municípios, e da relevância arquitetônica das edificações do complexo, justificando sua preservação e restauração. Nesse capítulo também são destacados quais os elementos do complexo ferroviário já são tombados e quais estão em processo de tombamento. No capítulo seguinte, é demonstrado através de fotos realizadas em visita a campo, o atual estado dos elementos do complexo ferroviário, dando enfoque para as edificações. Por fim, os seguintes capítulos tratam das propostas de intervenção, urbana e arquitetônica, baseadas em bases cartográficas cedidas pelas prefeituras, levantamentos da arquitetura construída da Companhia Paulista de Estradas de Ferro feitos pela Planart (no caso de Valinhos e Vinhedo) e pela arquiteta Flavia Pavani (no caso de Louveira) e nas visitas de reconhecimento realizadas ao longo da pesquisa.

Na escala urbano-territorial o projeto trata de um parque linear ao longo da ferrovia, de 17km de extensão, englobando boa parte do complexo ferroviário nas três cidades, além de áreas livres e equipamentos urbanos existentes. Esse parque se justifica como elemento essencial para a preservação do patrimônio construído e natural dos municípios, atentando para a questão da paisagem. Como exercício de projeto, foram desenvolvidas três “aproximações projetuais” do parque, em trechos que simbolizam usos diferentes, como uma intenção de desenho das áreas livres ao entrono da ferrovia e suas transposições, apesar de serem desenhos não muito detalhados. Essas aproximações são divididas entre uso contemplativo, mobilidade e uso recreativo.

Já para o projeto na escala do edifício, por uma questão de tempo, foi necessário escolher duas edificações para essa aproximação projetual pretendida. Portanto, os dois armazéns da cidade de Louveira foram destacados. Para esses edifícios, foi proposto o uso de mercados municipais comprometidos com a venda de produtos agrícolas da região do circuito das frutas. Além do desenvolvimento do projeto das edificações (a menor com 55m² e a maior com 111m²), considerando materiais a serem utilizados e layout, foi desenvolvido o desenho do entorno desses mercados.

Mais do que uma resposta projetual, é importante ressaltar que esse trabalho se dedica a levantar quase são as questões que envolvem a preservação do patrimônio ferroviário nas cidades do recorte, e quais os caminhos que acredito que devam ser seguidos para possibilitar essa preservação.

slideshow image

If you can see this, then your browser cannot display the slideshow text.

 

topo