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secao 4!

AUGUSTA LADO B

Alex de Brito Ninomia

Fábio Mariz Gonçalves

Três personagens compõem o início dessa história. O primeiro, o pedestre: As pessoas que vivenciam as ruas, que caminham pra se deslocarem de um lugar pra outro, mas principalmente que recriam os espaços públicos através de suas necessidades e vontades. São aqueles que enxergam onde não foi previsto, um espaço pra jogar bola, apresentar sua banda, fazer festas e eventos. Se não existe o banco, a mesa ou um apoio que seja, os pedestres acabam encontrando o potencial de cada elemento da cidade. O segundo personagem: A rua, que não é somente um lugar de passagem, mas também a conexão entre os espaços e o próprio plano público em que se encontram os pedestres, o que acontece de forma intensa na rua Augusta. Essas calçadas são ocupadas mesmo quando os estabelecimentos estão fechados, sendo um ponto de encontro das pessoas que frequentam essa rua. Por fim, a transformação, que chega com as grandes obras e cria intervalos nesse espaço de convivência da rua Augusta, não pela altura dos edifícios, mas porque seus projetos não qualificam o nível térreo e em alguns casos chegam a negar a própria rua.

Minha motivação então surgiu da vontade de preservar essa característica do uso da rua Augusta como lugar, como espaço público que é tão peculiar na cidade e que fala não somente dos estabelecimentos, mas principalmente das pessoas que se encontram dentro e fora desses lugares.

Essa augusta que se encontra assim hoje tem como origem a trilha de terra batida da Chácara do Capão e todo o desenvolvimento que sucedeu por conta da chegada do bonde elétrico e posteriormente dos automóveis, mas a parte da história mais significativa para o projeto é justamente a mudança que acontece quando a classe média e alta abandonam a rua Augusta abrindo espaço para uma nova diversidade de usos e gerando um espaço socialmente híbrido. Nesse período é que surgiram os novos condomínios, hotéis, prostíbulos, baladas e bares que deram à augusta a fama que tem. Com a chegada dos grandes empreendimentos o número de prostíbulos e saunas diminuiu, e a augusta agora apresenta uma procura maior pelos bares e restaurantes, assim como pelos espaços culturais.

As calçadas que fazem parte do baixo augusta, são extremamente solicitadas, pois a frequência das pessoas nessa região da augusta é completamente diferente de qualquer outro trecho do eixo. E essa diversidade de pessoas que procuram uma noite alternativa em São Paulo é que caracterizam a Augusta lado B, o baixo augusta no lado alternativo da experiência da rua. É nesse intervalo que as calçadas ficam repletas de gente, que acontecem os eventos no meio da rua, as projeções nas empenas, os grafites, as festas, o teatro de rua e até mesmo o churrasco público. E é também nessa Augusta lado B que se encontra o Terreno do polêmico Parque Augusta que se esconde atrás do muro que pertenceu ao colégio Des Oiseaux.

Quem já ultrapassou esse muro, descobriu uma área incrível onde existem árvores enormes, gramados generosos e um bosque que permite entender porque que chamam esse espaço de parque. A textura do piso, a variedade de vegetações, das trilhas e dos elementos que compõem o parque permitem que se passe uma tarde inteira numa longa deriva.

O projeto acontece nesse terreno como uma tentativa de resistir às transformações que estão acontecendo e como uma forma de amplificação da apropriação urbana pelas pessoas.

Um edifício acomoda-se na topografia, revelando-se de uma forma discreta enquanto também auxilia no acesso ao interior do terreno. Esse bloco divide-se em duas partes: uma área de ocupações temporárias e um bar/lanchonete, que possui maior versatilidade de usos e horários de funcionamento. Além da edificação, a maior parte do projeto consiste num jogo de decks que se desenvolve a partir da calçada e da cobertura do bar. Mais afastada do deck fica uma lâmina d’água e no interior do bosque é possível observar caminhos de saibro nas trilhas em que o fluxo pode ser mais intenso. O centro administrativo ocupa a casa tombada. A calçada da rua augusta chega na cobertura do bar, que pode ser acessado por uma rampa ou por uma escadaria que também vira uma arquibancada para a rua augusta. Sob essa cobertura está o bar, com a cozinha e a antecâmara iluminados por claraboias e o salão que recebe os pilares do parque em seu interior, relacionando-se com a parte externa também através do plano de vidro que percorre a fachada e abre-se ocasionalmente misturando os ambientes interno e externo.

Na cobertura do bar encontra-se uma praça com equipamentos públicos compostos por quatro variações de mobiliário que podem ser associados entre si, formando situações variadas. Na parte inferior do bar, voltado para o deck, o balcão que se encontra no interior do salão pode atender também clientes que estejam do lado de fora, potencializando a relação entre ambientes. O desenho dos ambientes dos decks também foi pensado levando em consideração as visuais que chegam de fora da quadra, criando espaços para serem vistos. Quando a calçada encontra o gramado, o desenho do piso é variado através da disposição de quatro módulos que permitem a dissolução entre as duas texturas.

A intenção do projeto, além de desenhar espaços que propusessem usos, foi principalmente permitir e potencializar a apropriação. O deck que se rebaixa pode ser um palco para onde se dirigem os olhares, mas é também a arquibancada onde estão as pessoas que olham as crianças brincarem no gramado. Os frequentadores podem sentar no piso frio, na grama, no deck, podem deitar na rampa. Também pode surgir uma instalação com pallets ou ser realizado um pequeno evento público. O que importa mesmo é que as pessoas usem esse espaço e que sejam testadas as soluções propostas, para que sejam repensadas caso não funcionem ou que permaneçam e se multipliquem caso sejam aceitas e utilizadas. Afinal, os projetos não teriam significado algum se não houvesse pessoas que utilizassem esses espaços.

Trabalho disponível em: http://issuu.com/alexninomia/docs/augusta_lado_b_tfg_issuu

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