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secao 4!

Arquitetura escolar na era do conhecimento:

a renovação do espaço para a construção das novas gerações

Amanda Puchille Pinha

Norberto C. S. Moura

A IDEIA

A renovação do ensino já é tema do trabalho de muitos pesquisadores e profissionais da pedagogia, assim como da psicologia e outras áreas afins. A ineficiência da aplicação do sistema de ensino tradicional vem desafiando os profissionais ligados à educação a repensar o sistema de ensino, buscando adequá-lo às novas gerações de crianças e jovens. Foi observado que as novas propostas pedagógicas são tão divergentes do tradicional que demandam a completa reestruturação do espaço da escola, tema ainda pouco explorado na arquitetura escolar brasileira e com raríssimos casos pioneiros na rede pública de ensino.

Assim, este trabalho se constituiu numa pesquisa sobre a evolução dos métodos pedagógicos, buscando-se compreender as propostas mais atuais e adequadas à sociedade do conhecimento, com sua exemplificação através de um Estudo Preliminar de projeto de arquitetura escolar, que vão permitir a análise comparativa com as escolas públicas no contexto brasileiro, mais especificamente no Estado de São Paulo.

AS REFERÊNCIAS

O estudo de pesquisas dos profissionais da educação, das novas propostas de arquitetura escolar e de casos de escolas inovadoras fundamentaram este repensar arquitetônico do ambiente escolar, apresentando argumentos que justificaram a proposta do trabalho, além de orientar a definição do programa de necessidades e o partido do projeto. Foi feita uma revisão bibliográfica da história da educação, abrangendo desde as origens da educação formal, passando pela renovação do ensino com o movimento escolanovista a partir do século XX, até a educação na chamada era do conhecimento, nos dias de hoje. A principal referência de arquitetura escolar consistiu no trabalho e ideias do arquiteto holandês Herman Hertzberger, que propõe a transformação do ambiente escolar em uma “paisagem de aprendizado” (learning landscape, no original) em que as salas de aula diminuem de tamanho ou desaparecem por completo, dando lugar a diversos espaços que permitem diferentes situações de aprendizado.

O LUGAR

A cidade escolhida para o projeto é onde a autora cresceu e viveu seus anos escolares. Além disso, os objetivos deste trabalho estão afinados com as aptidões da cidade: um pólo científico-tecnológico e de pesquisa em que a educação é um de seus pilares. A escolha do terreno levou em consideração os seguintes fatores: a educação ambiental (relação com o Banhado, uma Área de Proteção Ambiental contígua ao centro urbano); a requalificação do centro e a demanda por habitação social nessa região da cidade. O terreno escolhido possui duas torres residenciais abandonadas desde 1992 e aptas à requalificação, atualmente em posse da Prefeitura da cidade.

O PROJETO

O projeto desenvolvido buscou aplicar o conhecimento adquirido no estudo das referências de pedagogia e arquitetura escolar. Outros fatores que influenciaram a proposta foram o estudo da cidade e terreno, a partir dos quais foram tiradas as primeiras premissas de projeto: requalificação dos edifícios existentes no terreno para servirem de habitação para a população que hoje vive em situação irregular na encosta do Banhado, ideia respaldada pelo trabalho de Mioni (2007); projeto de edifício institucional integrado a estes edifícios, prevendo-se também espaços de estar e lazer que atendam à população local.

Desta forma, chegou-se a uma proposta de projeto que une usos residenciais, institucionais e de lazer público, promovendo a diversidade de usos, especialmente necessária à requalificação do centro da cidade. O programa estabelecido foi: Centro de Cultura e Aprendizagem, composto por Escola regular de Ensino Infantil, Fundamental e Médio, Biblioteca e Escola de Artes, Dança e Música, todos públicos; teto-jardim que serve de espaço de estar público (praça e mirante); e duas torres residenciais. Foi realizado também um estudo de projeto de layout para os espaços de aprendizagem da escola regular no pavimento térreo, com o objetivo de exemplificar a aplicação das diretrizes definidas para o projeto do edifício institucional.

A ANÁLISE

O estudo da literatura sobre pedagogia e psicologia educacional demonstrou que a infraestrutura tradicional das escolas já não atende as necessidades e ansiedades das crianças, jovens e sociedade de hoje. Foi observado que, mesmo antes do surgimento da sociedade do conhecimento, já se falava em necessidade de mudanças no esquema tradicional de ensino, hoje considerado completamente obsoleto unanimemente por pedagogos e estudiosos da área. A análise das referências de arquitetura escolar permitiu ilustrar, espacialmente, o quão diversas são estas novas propostas em relação ao encontrado nas escolas brasileiras hoje.

O projeto desenvolvido procurou aplicar o conhecimento adquirido nos estudos do tema e análises do lugar, o que levou o produto final a extrapolar a esfera educacional, unindo usos de cultura, educação e lazer públicos a um programa residencial. Esta opção levou em consideração o sucesso de instituições como o CEU (Centros Educacionais Unificados) no restabelecimento do convívio dos habitantes de comunidades em áreas marginalizadas e carentes da cidade de São Paulo, determinando assim focos de cultura no tecido urbano da metrópole. Outra referência projetual relevante é o Conjunto Pedregulho, na cidade do Rio de Janeiro, que mostra a preocupação do autor do projeto, Afonso Eduardo Reidy, em compor moradia e espaço externo, promovendo a instalação de serviços complementares às famílias na mesma área dos edifícios residenciais.

Finalmente, a investigação sobre as escolas públicas em São Paulo demonstrou que estas são projetadas seguindo um rígido processo de projeto que, por sua vez, foi moldado segundo o sistema educacional vigente no Brasil, que ainda se encontra nos moldes tradicionais de ensino. Assim, pode-se concluir que, para um real avanço na qualidade da educação no nosso país, serão necessárias mudanças substancias em diversas instâncias, abrangendo o sistema de educação nacional, a boa preparação e motivação dos profissionais da área, indo muito além da esfera da arquitetura escolar.

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