logofau
logocatfg
secao 4!

O espaço público como local a ser ocupado

Carolina Rattes La Terza de Almeida

Renato Cymbalista

Nos últimos anos, as cidades e o espaço público passaram por transformações radicais e nem sempre compreendidas. Até há poucos anos atrás, a única plataforma de interação em tempo real entre as pessoas era o espaço físico, fosse ele público ou privado. Com a popularização das redes sociais, viabilizou-se uma nova camada, uma nova esfera de interação simultânea entre as pessoas, algo inédito na história da humanidade. O surgimento dessa nova esfera de interação muda radicalmente o significado do que é o espaço. Em função disso, as pessoas conseguem estar em mais de um lugar ao mesmo tempo, o que modifica a forma de produzir ações e transforma as relações com o próprio espaço físico.

E por que isso muda tudo? Até o surgimento das redes sociais, espaços públicos escassos e de baixa qualidade significavam a quase inviabilização da interação social. No momento atual, ainda que a falta de espaços públicos bons, convidativos, interessantes etc. continue sendo um problema, a cidade que não construiu esses bons espaços não está necessariamente numa situação de inferioridade absoluta; sob alguns aspectos, torna-se um desafio dar qualidade a espaços que, até então, não permitiam nenhum uso interessante. Dessa forma, grupos de todos os tipos vem tomando para si o desafio de incidir sobre os espaços de baixa qualidade urbanística e transformá-los. Tal movimento, apesar de não ser impossível antes da existência das redes sociais, encontra-se imensamente potencializado.

Isso significa que as demandas e reivindicações de utilização do espaço público se recolocaram ao longo desses últimos 5 anos: se antes o espaço público tinha que, obrigatoriamente, ser uma plataforma adequada, que favorecesse e que viabilizasse a interação entre as pessoas "e quanto melhor fosse esse espaço, melhor a cidade estaria cumprindo a função de cidade"; agora, as pessoas podem, a partir de outra plataforma de interação, que é virtual, construir esse espaço público que está faltando e dar qualidade a ele utilizando-se do chamado "urbanismo".

Cidades como São Paulo, que não conseguiram passar de forma satisfatória pela rodada anterior de construção de espaços públicos, descobriram que, de repente, não estão necessariamente em uma situação inferiorizada em relação a outras cidades do mundo. Ao contrário, por possuir uma quantidade gigantesca de espaços mal resolvidos ou rendidos para as infraestruturas de circulação e estacionamento, podem acionar tais espaços como plataformas interessantíssimas para que as pessoas possam atuar ativamente: é muito mais fácil ocupar de forma criativa o Largo da Batata, a Praça do Ciclista ou o vão livre do Masp, por exemplo, do que a Rambla de Catalunya, em Barcelona, ou o High Line Park, em Nova Iorque, que já possuem usos detalhados, previstos e planejados. O que se pode inventar lá? Quais as possibilidades de se realizar atividades de ocupação ativa em espaços tão milimetricamente definidos?

Dessa forma, eventualmente, uma cidade como São Paulo pode estar invertendo essa possibilidade em que, quanto menos os espaços são pensados, planejados e organizados, mais flexíveis, interessantes, versáteis e múltiplos eles podem ser.

O Estado, como opera hoje, está montado para atender somente às formas de ocupação passivas e, apesar de mostrar alguns sinais de que vem reagindo, ainda está trabalhando com uma demanda muito caso a caso.

Os novos usos para o espaço público deveriam funcionar como uma categoria abstrata, através de uma reforma administrativa, onde a ocupação do espaço público pudesse acontecer com um eco na gestão pública, abarcando todas as possibilidades de atuação das pessoas. Isso não significa que o Estado deva engessar as relações, determinando absolutamente tudo o que pode e o que não pode acontecer, mas que, quando alguma coisa surgir, a administração já tenha uma estrutura toda preparada para dar apoio a isso.

O trabalho está dividido em duas partes: na primeira, chamada de "Leitura", foi realizada uma pesquisa dos diversos eventos que aconteceram nos últimos anos, em São Paulo. Apesar de, formalmente, não ter sido estabelecido um recorte territorial para o levantamento, os eventos estão todos localizados nas regiões central e sudoeste, dentro da área do centro expandido. Isso não significa que não haja esse tipo de atividade em outros lugares da cidade; muito pelo contrário, acredita-se que eles existam, e bastante como se pôde ver através da atuação do Programa VAI, ou de algumas atividades da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania.

Ainda assim, foram considerados somente os eventos com os quais se pôde ter contato, através de convites enviados pelas Redes Sociais utilizadas por mim, ou enviados por algum amigo ou colega que tinha conhecimento do trabalho.

O levantamento envolveu a sistematização de alguns dados referentes aos eventos estudados, tais como data, local, duração, fonte de renda, organização, custos e formas de organização dos realizadores, de acordo com material divulgado através de Redes Sociais e da Mídia.

Concomitantemente com a fase de pesquisa, foi elaborado também um questionário, através da ferramenta de formulários do Google Drive, que foi enviado a alguns dos responsáveis pela organização desses eventos. Da mesma forma que boa parte das atividades aqui estudadas foram organizadas via redes sociais, também através delas chegou-se a ter contato com essas pessoas que, muito gentilmente, cederam seu tempo para Respondê-lo.

A reprodução do texto completo, com as perguntas e respostas, se encontra no final deste trabalho e pode vir a ser útil para quem também procura entender um pouco melhor como se dá a organização de eventos em espaços públicos, sob a ótica de quem os faz acontecer. O questionário serviu como uma importante base para conhecer mais de perto essas pessoas e entender como elas conseguiram se articular.

Como a ideia do trabalho envolve uma reforma administrativa dentro da Prefeitura Municipal, foi necessário entender um pouco melhor como se dá a organização administrativa atual dos órgãos públicos municipais e quais as possibilidades de atuação deste trabalho nessa estrutura.

Assim, a segunda parte do trabalho, chamada "Proposta" também envolve pesquisa, porém, com o olhar um pouco mais direcionado. Nela, são apresentados os resultados de levantamento realizado para entender quais são as ferramentas passíveis de ser utilizadas, pelo poder público, para a consolidação de uma política pública que organize e viabilize a realização de atividades em espaços públicos por qualquer pessoa.

Ficha Técnica:

Projeto gráfico: Gabriela Namie e Victor Tchaba

Trabalho disponível em: http://issuu.com/carollaterza/docs/cadernotfg2_tela

slideshow image

If you can see this, then your browser cannot display the slideshow text.

 

topo