Considerando o hinduísmo uma das religiões mais antigas do mundo e a terceira em número de adeptos, não causa espanto que sua cultura tenha influenciado grandemente diversos povos, até mesmo os de terras distantes. Seus aspectos únicos não apenas exerceram influência no âmbito religioso, como também no filosófico, científico, urbanístico e arquitetônico.
Por possuir uma grande tradição oral na propagação do conhecimento adquirido através dos milênios – conhecimento esse preservado quase que integralmente até a atualidade através de sofisticadas técnicas mnemônicas –, é de relevante importância o estudo de textos antigos como forma de entender as raízes de algumas tendências contemporâneas.
Uma dessas tendências é a crescente concentração humana em torno das cidades. Ora, e porque as cidades? E como se tornaram o que conhecemos hoje por cidade? Que vestígios podemos ter de um tempo remoto no qual o homem começou a conviver em espaços urbanos?
A religião hinduísta tem sua importância nesse tema por possuir diversos textos em língua sânscrita – atualmente um dos idiomas oficiais da Índia e que teve sua primeira descrição gramatical redigida no século V a.C. –, de maior conhecimento e com maior preservação do que outras línguas antigas entrelaçadas com o início da urbanização mundial, como o sumério, por exemplo, que foi extinto em 1800 a.C.
Dentre os diversos textos, tratados de arquitetura e urbanismo, que integram o Vastu Sastra – a ciência da arquitetura –, como o Silpa Prakasa, texto medieval em sânscrito sobre a construção de templos, o Mayamatam foi escolhido como principal fonte de análise para a elaboração deste Trabalho Final de Graduação. A escolha foi baseada por não se tratar de um texto puramente sobre templos, mas sim sobre o projeto do ambiente urbano em geral.
Assim sendo, propõe-se o projeto de um templo hinduísta e centro de estudos e divulgação do hinduísmo na cidade de São Paulo, como tentativa de tornar acessível a extensa cultura por trás desta religião. Proporcionar um espaço de estudo das ciências das escrituras de diversas áreas e também um espaço das práticas religiosas, ainda inexistentes em todo o Brasil.
O estado de São Paulo foi escolhido de acordo com estatísticas do censo de 2010 do IBGE, que indicam esta unidade federativa como sendo a com maior número de hinduístas do país e a cidade de São Paulo estar inserida na maior região metropolitana do Brasil.
Tendo como base do trabalho a leitura do livro Indian Architecture – Buddhist and Hindu periods escrito por Percy Brown em 1942, em que o autor elucida as origens construtivas e artísticas da civilização brahmânica e budista, fica evidente a importância meritória do estudo da arquitetura e do urbanismo que floresceu no subcontinente indiano – composto por Bangladesh, Butão, Índia, Maldivas, Nepal, Paquistão e Sri Lanka – desde o princípio de sua história.
Os aspectos culturais apresentados no livro não apenas se restringem ao tal subcontinente, mas extrapolam limites geográficos. Todo o sudeste asiático compartilhou dessas mesmas diretrizes comuns no tocante à civilização – através do intercâmbio entre os diversos reinos estabelecidos nos atuais Mianmar, Camboja, Laos, Vietnã, Malásia, Tailândia, Indonésia, Tibete e Filipinas. Talvez o aspecto mais facilmente lembrado seja o da religião, principalmente o budismo, que foi amplamente difundido em todos os países citados anteriormente e também ainda no Japão, Coréias, China, Taiwan e Mongólia.
Porém, a religião carrega consigo outras características materiais que se difundem e, ainda que com certa reinterpretação local, se enraízam. Um exemplo de edifício, ou elemento arquitetônico, difundido nos países de fé budista é o pagode – templo a Buda.
O pagode aparece em todos os países praticantes do budismo, ainda que com diferentes tipologias, e remete aos princípios da civilização no subcontinente indiano, sob domínio da dinastia Máuria.
Uma questão que se levanta é a quantas pessoas, diretamente, os aspectos culturais construtivos e urbanísticos relativos ao budismo e hinduísmo afetam, tendo em vista que os países mais populosos do mundo encontram-se na área de antiga influência indiana.
Para evidenciar que estamos tratando de culturas amplamente difundidas, não só nas regiões já citadas, mas também na Europa e Américas, mostram-se os mapas na página ao lado.
Somando-se a população de cada um dos países com maioria hinduísta e budista, tem-se que são 1,55 bilhão os adeptos destas religiões, ou seja, quase 24% da população mundial – pouco abaixo do número de adeptos do islamismo, a segunda religião mundial em número de seguidores.
Explicitados os números e importâncias, fazem-se necessárias algumas explicações da arquitetura e urbanismo relacionados ao budismo e hinduísmo, estudados durante o desenvolvimento deste trabalho.
PROJETO DE DE UM TEMPLO PARA PRÁTICAS DA RELIGIÃO HINDUÍSTA E ESTUDOS DE CULTURA E ARTE HINDUÍSTA EM SÃO PAULO.
ENDEREÇO: RUA NELSON FERNANDES
ÁREA DO TERRENO: 4800 m²
ÁREA DA EDIFICAÇÃO: 2402 m²
PAVIMENTOS: 3
