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secao 4!

O imaginário da água na construção de paisagens urbanas.

Estudo para um eco-porto.

Fernanda Costa Cavallaro

Alexandre Delijaicov

Diz-se que um trabalho acadêmico tem de ter começo, meio e fim. Nesse contexto, esse TFG é um pouco torto, tem um quê de inacabado, porque nele eu enxergo quatro começos; são quatro caminhos que inicio ao mesmo tempo, sem hierarquias, mas em uma sequência aparentemente cronológica: investigar o conceito de paisagem a partir do imaginário e da percepção, ou seja, da construção social e pessoal do olhar; reunir um arcabouço de referências sobre o imaginário da água em paisagens urbanas, aqui decomposto em componentes e ações; conceituar o que pode ser o eco-porto dentro do contexto do Hidroanel Metropolitano de São Paulo; elaborar uma proposição espacial para um eco-porto em um endereço da metrópole, partindo desses três primeiros estudos.

A visão que fundamenta essa escolha não é a do eco-porto como um espaço físico único, e sim como uma rede de espaços. São 88 eco-portos espalhados pela metrópole, e como tal, eles podem ser elementos simbólicos que ajudam a caracterizar a cidade, como parte de sua identidade física e cultural. Ao longo de uma rede hidroviária, configuram pontos nodais, verdadeiros marcos na paisagem urbana.

A primeira parte do trabalho é constituída de ensaios que refletem o conceito de paisagem, a importância da percepção do espaço na construção da imagem que fazemos da cidade, e a importância de se indagar acerca do sentido e da identidade em arquitetura.

A segunda parte trata do imaginário da água em paisagens urbanas e reúne um repertório iconográfico dividido em componentes e ações inseridos em paisagens urbanas. Não nos dispomos a esmiuçar os (muitos) significados ou toda a história de cada elemento-chave, apenas recordar a importância deles na nossa cultura, não como peças de um quebra-cabeça em que cada peça tem seu lugar e importância bem definidos, e sim como pecinhas de um caleidoscópio infinito, em que cada elemento ganha sentido conforme nova reconfiguração, sem deixar de ser o que é. Dividimos esses elementos em “componentes-chave” e “ações-chave”: componente, porque participam do espaço físico; ações, porque predizem um sujeito. Busquei imagens que retratassem aspectos positivos do imaginário da água, ações e componentes cuja importância na nossa cultura é reforçada por sua permanência no tempo.

Componentes: a água; rios, canais e lagos; o cais e o passeio público; pontes; praias; fontes e chafarizes.

Ações: contemplar; brincar e desfrutar (lazer); praticar esporte; navegar.

A terceira parte conceitua o eco-porto como um complexo à margem do canal navegável, que tem a função primeira de distribuição e transporte da carga de lixo triado. Assim como no caso dos demais portos (lodo-porto, draga porto e trans-porto), o destino das cargas é o tri-porto, onde o lixo é processado e transformado em matéria-prima. No entanto, o eco-porto é mais que um porto de origem de lixo. O eco-porto é uma praça de equipamentos urbanos.

O recebimento e transporte de lixo é chamado aqui de “programa básico”, a função técnica que liga o eco-porto ao sistema de manejo dos resíduos sólidos do hidroanel. Esse programa é ampliado para comportar outras funções, os “programas possíveis”, que fornecem opções culturais, esportivas e de lazer à população local, conforme as necessidades de cada bairro.

E por fim, a quarta parte é a proposta de um eco-porto nas margens da Guarapiranga, no local do antigo Santa Paula Iate Clube, que abriga a Garagem de Barcos do Artigas. Aqui fica proposto um eco-porto com a seguinte programação:
• Centro cultural
• Estacionamento
• Bicicletário
• Piscinas públicas
• Escola de remo e vela
• Praça / mirante
• Marquise livre para feiras e eventos
• Bosque e área de piquenique
• Parque infantil
• Praça seca
• Cais do eco-porto
• Embarque para barcos de turismo
• Alargamento do passeio
• Praça do chafariz

O projeto do Hidroanel, ao devolver ao rio o a navegabilidade e à população as margens, faz com que a cidade volte a olhar as águas de frente. A mudança desejada é que a população perceba a importância dos rios na sobrevivência da cidade e em sua composição primordial, para que também possa desfrutar os prazeres relacionados a uma vida junto da água. A intenção é multiplicar as possibilidades: aumentar o leque de ações e apropriações do espaço urbano.

O estudo aqui realizado faz justiça poética ao devolver ao local a vida que o animou por tantos anos, e tão mais vivo quanto antes por se tratar de uma proposta de apropriação coletiva, e não de poucos, como acontecia no clube de elite. Dessa forma, o que antes foi uma intenção de ser o clube por excelência da Cidade Satélite de Interlagos, agora serviria a cidade toda.

Cada habitante ou visitante da metrópole ganharia novos elementos de leitura e usufruto do espaço. Não se quer dizer que no presente momento já não haja postos elementos e pré-condições suficientes para uma leitura, e é nesse ponto que tocamos na intenção: o Hidroanel sugere características bem vindas e positivas a um espaço que é visto com tristeza e caracterizado, primordialmente, por suas características negativas, resultantes de uma apropriação violenta.

A imagem da cidade a que almejamos nesse trabalho não é uma imagem esclarecedora que sintetize tudo quanto há para ser sabido da cidade. A intenção é justamente oposta. Não é síntese, mas análise. É contribuir pra que a imagem da cidade se multiplique em si mesma, e mais no olhar de cada um, pois cada ponto – ou, no caso, cada eco-porto – se transformaria em um mundo novo, capaz de refazer o sentido do lugar em que pousa, e, ao mesmo tempo, o sentido daquela paisagem urbana que se descortina totalmente nova em relação ao que temos hoje, configurando não uma, mas infinitas imagens possíveis.

Trabalho disponível em: http://issuu.com/artedafefe/docs/fernanda_cavallaro_tfg/0

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