O tema central deste trabalho é o projeto de um conjunto habitacional baseado nas novas necessidades originarias do modo de vida contemporâneo, utilizando o princípio da flexibilidade para a adequação da habitação às diferentes necessidades de seus moradores, e o princípio da industrilização e pré-fabricação para facilitar e baratear a construção destinada a produção de Interesse Social.
Realizei entre o período de 2012 e 2013 uma pesquisa de iniciação científica que buscava fazer um levantamento de alguns exemplos de habitações de interesse social produzidas no Estado de São Paulo afim de se fazer um estudo comparativo entre aqueles projetos concebidos por escritórios particulares ligadas a associações comunitárias, entre aqueles produzidos por assessorias técnicas e construídos por mutirões, e aqueles produzidos pelo poder público através das padronizações implantadas pela CDHU.
O objetivo dessa pesquisa era encontrar bases argumentativas para se questionar a qualidade dos projetos padrões da CDHU, embasando as críticas que comumente reconhecemos.
Como exemplo das padronizações da CDHU, selecionei o conjunto CDHU Iguatemi, localizado na zona leste de São Paulo. Esse conjunto, que se iniciou com apenas 4 edifícios contendo térreo + 4 pavimentos, recentemente conta com mais de 70 edifícios, e continua a se expandir pela Estrada do Iguatemi. Após as análises relacionadas a implantação, relação com o entorno, conforto ambiental, ergonomia, entre outros aspectos, propôs-se, como exercício projetual, elaborar um projeto sobre a área do CDHU Iguatemi, que confrontasse o projeto atual utilizando-se das qualidades levantadas nos bons exemplos de conjuntos habitacionais estudados e analisados na pesquisa.
A partir disso, o objetivo desse Trabalho Final de Graduação é elaborar um projeto habitacional adequado às novas dinâmicas da vida contemporânea, buscando uma solução que se desprenda das soluções de mercado, valendo-se dos princípios de pré-fabricação e flexibilidade. Além do projeto do edifício, pretende-se chegar ao projeto de um conjunto de uso misto que una edifícios habitacionais a estruturas de comércio, saúde, educação e lazer, integrando esses novos equipamentos a estrutura do bairro.
Resumindo o objeto de estudo deste trabalho final de graduação é o projeto de um conjunto habitacional de Interesse Social baseado em princípios de pré-fabricação e flexibilidade, no terreno do atual conjunto habitacional chamado CDHU Iguatemi, localizado na zona leste da cidade de São Paulo, e implantado pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU).
Para se pensar no habitat humano é necessário se valer de análises sobre a situação sociocultural do grupo da sociedade a que se destina determinado projeto habitacional. As condições externas, políticas, econômicas, culturais e sociais interferem diretamente nas relações entre o homem e sua morada, definindo diferentes necessidades ao decorrer dos séculos.
Harvey (1996) defende que a partir da segunda metade do século XX a sociedade mundial, como um todo, entrou em um processo acentuado de aceleração dos processos de trabalho, incluindo questões organizacionais e tecnológicas, que implicaram diretamente em mudanças dentro do espaço de morar. Tais mudanças ocasionaram na necessidade de se agregar outros usos ao espaço de morar, transformando a função da habitação, antes local de descanso e lazer, para um local multiuso capaz de abrigar todas as interfaces da vida contemporânea.
Desta forma vemos um contínuo e expressivo intercambio de funções entre o espaço interno da habitação - o lar -, e o espaço externo - a cidade. A cidade, antes vista como o meio de produção, a fonte financeira da família urbana, hoje é compreendida também como espaço de lazer e convívio. E o lar, por sua vez, antes visto como um espaço de refúgio, descanso e lazer, hoje torna-se uma verdadeira máquina capaz de englobar as mais diversas atividades diárias.
A sociedade moderna passou por transformações, das mais diversas origens, que influíram diretamente nos núcleos familiares. Isso significou o surgimento de variados grupos domésticos que não eram comumente encontrados nos séculos passados como: famílias monoparentais, que podem ocorrer devido a morte de um dos cônjuges, porém a maior causa está no acentuado índice de divórcios; casais que resolvem não ter filhos, proporcionado graças as possibilidades contraceptivas que permitem o planejamento de quando e quantos filhos ter; grupos com ou sem laços conjugais ou de parentescos vivendo dentro de um mesmo espaço, ocasionado pela dificuldade financeira de acesso a terra; e por fim, a crescente parcela da sociedade que mora sozinha, formada por viúvos/as com filhos adultos, jovens que adquirem independência financeira, estudantes/ empresários que tentam se aproximar do núcleo de estudo/trabalho.
É importante salientar que esses fenômenos cercam todas as sociedades contemporâneas, não se restringindo à brasileira. O que fortalece a necessidade de se repensar o habitat humano dentro dos moldes de uma sociedade dinâmica, em constante evolução, que não mais se encaixa nos modos de vida dos séculos passados.
Direcionando-se às novas relações empregatícias, encontramos um acentuado processo de independência entre o trabalhador e o espaço físico. Ou seja, devido às novas tecnologias aplicadas nas mais diversas áreas profissionais, o espaço físico do escritório, empresa ou indústria vem se convertendo, nas palavras de Castells (1999 citada em Mendes 2010), no espaço de fluxos - dados, informações, etc. - permitindo que o trabalhador exerça sua função em qualquer lugar, até mesmo dentro do conforto de seu lar.
Assim, o trabalho associado ao espaço residencial surge como resposta a essa reorganização de espaços, facilitando a vida do trabalhador que não mais precisa se preocupar com as distâncias entre sua morada e o núcleo de empregos.
Em função das transformações citadas acima, este trabalho buscou referências projetuais que refletissem essas novas necessidades, com o objetivo de concluir o trabalho com um projeto habitacional baseado nas novas dinâmicas da vida contemporânea.
