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secao 4!

De cidades para pessoas a cidades educadoras:

por uma estratégia de desenvolvimento de projeto político-pedagógico de bairro

Luis Fernando Villaça Meyer

Fábio Mariz Gonçalves

As experiências vividas pelo sujeito no cotidiano, quando trazidas por instituições que não buscam envolvê-lo em sua complexidade, tendem a afastá-lo das experiências mais profundas de vida com as quais dizem lidar, tendendo a confundir forma e conteúdo, como escola e aprendizado, hospital e saúde, polícia e segurança, etc. O presente trabalho parte da discussão sobre esta distensão entre as experiências do viver e da vida e propõe uma estratégia de reação a este afastamento.

O trabalho foi dividido em quatro partes: “carta ao mediador”, seção teórica onde definimos os conceitos gerais e as bases sobre as quais a estratégia se sustenta; “estratégia”, proposta metodológica dividida em seis movimentos; “constelação de experiências”, seção de apoio à estratégia, constituindo repertório de experiências que podem ser utilizadas; e “ensaios”, seção constituída de narrativas sobre as estratégias já desenvolvidas.

A Carta ao Mediador é iniciada com a discussão sobre o afastamento entre as experiências do viver cotidiano e as experiências de vida, amparada em conceitos de Ivan Illich e Habermas. Esta base nos permite identificar vertentes institucionais hegemônicas que geram experiências cotidianas para um recorte do sujeito – como a escola muitas vezes lida com o aluno como um receptáculo de informações; ou a democracia representativa lida com o cidadão como mero eleitor – e acaba por reforçar seu afastamento às experiências mais significativas que o sujeito poderia buscar – no caso, o aprendizado e a participação política, por exemplo.

A partir das considerações sobre hegemonia e distensão, discute-se que há vertentes que partem da intenção oposta, ou seja, da busca constante pelo máximo envolvimento do sujeito, possibilitando não mais o aprofundamento da distensão, mas seu vetor oposto, a integração, dando mais espaço ao sujeito desenvolver consciência sobre a vida que gostaria de viver e de fato vivê-la. Estas seriam, nos casos discutidos, vertentes chamadas de “contra hegemônicas”.

Os três campos de experiência vistos como de grande potencial de integração – a saber, a cidade, a política e a educação – são colocados em paralelo, ressaltando-se sua sinergia e seus elementos em comum. Da confluência de diversos pontos entre estas vertentes distintas, definem-se algumas figuras que começam a dar forma à estratégia que será proposta.

Em primeiro lugar, define-se a ideia de mediação e a figura do mediador. Partindo-se da consideração de que experiências cotidianas e experiências de vida são distintas entre si e podem estar afastadas ou aproximadas, é preciso mediar sua relação e reagir a seu afastamento. Para se realizar tal mediação, é preciso desenvolver consciência de uma e de outra, bem como da distância entre ambas. Todo sujeito desenvolve, em alguma medida, tais consciências e a capacidade de realizar a mediação, contudo, pode-se favorecer este desenvolvimento e a autonomia de ação através da sugestão de experiências como aquelas das vertentes contra hegemônicas.

Sendo assim, é preciso definir com mais atenção a ideia de experiência. Buscamos principalmente em Dewey e em Larrosa os conceitos que conformam tal ideia, chegando a quatro elementos da experiência: cultura, visão, ação e meio. O mediador, aquele que irá sugerir experiências a comunidades buscando potencializar o desenvolvimento de consciência e de autonomia frente à distensão por parte do conjunto social, precisa, portanto, de uma estratégia para articular tais experiências em suas quatro faces de intenção de envolvimento.

A conclusão da Carta ao Mediador toma então a forma de tal estratégia prática de ação, delimitando seus primeiros contornos. Esta deverá levar em conta a escala de intervenção; a impossibilidade de determinação prévia do estágio de consciência da comunidade, logo a possibilidade de partir da situação mais crítica; o envolvimento do mediador com o conjunto social e com a área de intervenção; o processo de desenvolvimento de consciência; e as subsequentes etapas de participação. Tais características são organizadas em uma série de momentos divididos em seis movimentos.

O último capítulo da Carta ao Mediador abre a Estratégia, onde são definidos com detalhes os vinte e três momentos dos seis movimentos, dos quais o primeiro, o Prelúdio do Movimento Orquestração, marca a entrada do mediador na estratégia e o último, o Ensaio, marca sua conclusão. Neste processo, a intenção é de que a comunidade com a qual se trabalha atue de forma cada vez mais integrada e participativa, desenvolvendo sua autonomia frente a distensão de tal maneira que ao final do VI Movimento o mediador deixa de ser fundamental no processo de sugestão de experiências de integração.

Os seis movimentos são divididos em dois atos: o primeiro compreende a Orquestração, a Aproximação e o Contato, ações ainda muito focadas na ação dos mediadores e dos primeiros líderes comunitários e cidadãos ativos da comunidade, denominados “pilares”. Nestes movimentos, busca-se um envolvimento cuidadoso com a realidade do bairro onde se atua, procurando as primeiras experiências a se “constelar”, termo que denomina a ação de elencar experiências dentro da lógica da estratégia.

O segundo ato compreende os movimentos de Difusão, Integração e Desenvolvimento. Aqui, mediadores e pilares iniciam de fato a sugerir experiências à comunidade, partindo de sugestões ainda muito centradas em suas próprias ações, mas aprofundando a participação da comunidade até o ponto de tais sugestões e execuções serem realizadas integral e autonomamente pelo conjunto social, reforçando ações que já poderiam existir antes da atuação de mediadores.

Concluído o VI Movimento da estratégia, temos o VII Movimento, aquele que une e sintetiza as quatro partes do presente trabalho e busca viabilizar a difusão da ação de novos mediadores em outras comunidades. Tal metodologia busca tanto agregar boas práticas e elementos de coletivos existentes e de vertentes diversas, quanto amparar pessoas e grupos a desenvolverem projetos políticos, pedagógicos e urbanos de maneira integrada, buscando sempre reagir ao afastamento entre a vida que se vive e a vida que se gostaria de viver.

Trabalho disponível em: http://issuu.com/luisfernandovillacameyer/docs/luis_fernando_meyer_-_de_cidades_pa?e=7374671/8333457

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