A Mooca é um dos bairros mais antigos e tradicionais de São Paulo. No final do século XIX e começos do século XX, durante o período de industrialização da cidade, o bairro se consolidou e adquiriu sua peculiar identidade: grandes indústrias, vilas operárias e imigrantes.
Um dos remanescentes desse período é a antiga Fábrica de Tecidos Labor, localizada entre a Rua da Mooca e a Avenida Alcântara Machado. Apesar de seu valor histórico e arquitetônico, o conjunto está inutilizado ha quase 30 anos e se encontra num estado precário de conservação.
Este trabalho consiste em propor um projeto de revitalização de todo o Conjunto Labor, que hoje é composto por galpões de diferentes épocas, depósitos, chaminés e um sobrado de 1910. O programa foi elaborado a partir de uma análise histórica do bairro, de sua atual configuração, morfologia e necessidades da população local e do mercado.
Através de um olhar crítico, propõe-se manter certas partes da edificação e projetar outras, para adequá-lo ao novo uso e valorizar o conjunto como um todo.
O bairro da Mooca faz parte da Subprefeitura da Mooca, em conjunto com os bairros do Brás, Pari, Água Rasa, Belém e Tatuapé. De modo geral as características mais marcantes hoje são o uso do solo diversificado, o comércio especializado de vestuário e de ferragens, particularmente no bairro do Brás; as indústrias de pequeno porte relacionadas também ao setor têxtil, a existência de restaurantes e locais ligados à gastronomia, além de indústrias de maior porte no bairro da Mooca. Ainda, nos últimos anos vem ocorrendo forte investimento do mercado imobiliário que, visando atender a demanda, tem construído grandes condomínios habitacionais.
Essa área ainda é mercada pela sua ocupação do começo do século XX, de pequeno lotes que abrigavam as vilas operárias até os grandes centros fabris. No que se refere à população, ainda é fortemente marcada pela imigração italiana, que mantêm orgulhosamente suas tradições.
Quanto às indústrias que ainda permanecem na região, a Mooca é o bairro que abriga as de maior porte, que ainda se beneficiam da proximidade dos trilhos para escoar a produção.Contudo, grande parte das indústrias se mudou aos novos polos industriais deixando inúmeros galpões e fábricas de grande porte, disponíveis, que estão sofrendo uma reconversão de uso através da implantação de grandes equipamentos em suas estruturas. Em sua maioria, o mercado imobiliário vem demolindo os complexos industriais e construindo grandes condomínios habitacionais. Esses condomínios seguem os padrões do resto da cidade, sendo murados em todo o perímetro, muitos deles com vários andares de garagem acima do solo. Essas “muralhas” comprometem a vida nas ruas, que tem tanto valor para os moradores, comerciantes e pedestres em geral que por lá transitam.
Os principais problemas apontados pela população são: a falta de áreas verdes, responsável pelos maiores índices de temperatura da cidade de São Paulo; conflitos de zoneamento, necessidade de preservação e reconversão de uso das antigas indústrias, carência de equipamentos de cultura e lazer; inundações em determinadas áreas; presença de cortiços e barreiras urbanas. A ferrovia, a linha verde do metrô, a Avenida do Estado e a Avenida Radial Leste são algumas delas que comprometem a mobilidade, geram vazios urbanos e diminuem a qualidade ambiental dos bairros por onde passam.
A partir dos levantamentos e análises anteriores, partiu-se para a definição de um novo programa de uso para o conjunto fabril que o respeite e o valorize, além de responder satisfatoriamente às necessidades da população local e do mercado.
A definição do programa teve como primeiro movente a revitalização e preservação do conjunto. Optou-se por usos que preservem a memória do bairro industrial, tradicional e imigrante, onde a gastronomia é um traço marcante.
O segundo movente parte da tentativa de sanar parte das demandas atuais da população. O projeto visa atender a carência de áreas verdes, equipamentos de lazer e equipamentos educacionais profissionalizantes que atraiam a população jovem.
A terceira premissa surgiu da necessidade de aliar as demandas da população e a preservação do bem com demandas atuais do mercado. Como descrito anteriormente, a Mooca vem sendo alvo de fortes investimentos do setor imobiliário, que se aproveita dos grandes lotes industriais para levantar torres habitacionais, com pouca relação com seu entorno e que vem gradativamente descaracterizando o bairro e contribuindo para a morte da vida nas ruas. Se por um lado esses empreendimentos vêm alterando a identidade da Mooca, por outro é preciso aumentar a densidade populacional em bairros próximos ao centro, cuja infraestrutura urbana suporta tal crescimento.
A quarta premissa partiu da necessidade de promover o encontro de pessoas, com diferentes idades, interesses e objetivos, configurando um espaço de convívio e trocas, misturando os usos habitacionais, educacionais, de lazer, comércio e serviços. Tal condição proporciona o máximo aproveitamento das estruturas do conjunto e garante que seja usado durante o dia e a noite.
Estudando a região destacou-se o problema da mobilidade local, devido aos grandes lotes industriais e às barreiras urbanas como as grandes avenidas citadas anteriormente. A última premissa parte da vontade de permeabilizar o conjunto, torná-lo mais visível e transpor a maior barreira local, a Avenida Alcântara Machado.
Portanto, o programa deve ser abrangente, condizendo com as grandes dimensões da quadra. Atendendo às premissas colocadas, o projeto prevê:
- binômio voltado à gastronomia, composto por um mercado e uma escola técnica de gastronomia complementares - a escola se abastece dos produtos frescos do mercado e o mercado oferece mão de obra qualificada para o preparo de alimentos;
- edifício para carga/descarga de produtos e depósitos do mercado;
- 6 edifícios habitacionais com unidades de 60 a 135 m², com áreas exclusivamente condominiais e uso comercial e de serviços no térreo;
- Museu da Memória da Mooca, no antigo casarão assobradado;
- 4 Praças com diferentes características: uma praça em diferentes níveis, localizada onde era o galpão de concreto (na Rua da Mooca), uma praça semi-coberta para eventos com parede de projeções e palco; uma praça-museu, com vegetação típica da Mooca e uma praça coberta voltada à Radial;
- subsolo de garagem;
- bloco de apoio à ciclovia da Radial, que conecta todos os pavimentos do conjunto e serve de acesso à passarela que transpõe a avenida;
- ruas de pedestres que permeiam o conjunto e uma galeria localizada junto à Rua da Mooca, com o objetivo de alargar a calçada e alojar mercados e feiras temporárias;
As dimensões e detalhes do programa de necessidades são apresentados na sequência.
A maior parte dos blocos será preservada em sua forma original. Serão realizadas algumas intervenções, nas quais valerá o principio da distinguibilidade, pautado pela distinção entre velho e novo através dos materiais e da preservação de partes da estrutura e fachada original, de forma a facilitar o entendimento do conjunto original.
