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secao 4!

Largos paulistanos

Mariana Pinheiro de Carvalho

Eugenio Fernandes Queiroga

Esse trabalho surgiu da percepção de alguns largos de São Paulo como espaços com vivências muito ricas. A princípio, a intenção era investigar sobre as apropriações nos largos paulistanos, partindo de alguns estudos de caso com o objetivo de refletir sobre a esfera de vida pública contemporânea na cidade de São Paulo. No entanto, algumas especificidades do objeto – largo – tornaram necessária a ampliação do escopo desse trabalho. Se outros espaços livres públicos, tais como praças, parques, ruas e calçadas, são amplamente abordados pelos mais diferentes enfoques, os largos raramente são estudados como objeto principal. Assim, alguns questionamentos iniciais sobre quais seriam suas características morfológicas ou qual sua origem histórica, não obtiveram respostas já formuladas. O que encontramos foi uma diversidade de informações incompletas e, geralmente, opostas.

Assim, entendemos que uma abordagem histórica e morfológica era imprescindível, inclusive para amparar as investigações sobre apropriação. Dessa maneira, nos cinco capítulos que compõem o trabalho, procuramos cercar a temática dos largos sem perder de vista a discussão sobre a esfera de vida pública apresentada no capítulo que introduz o trabalho.

No segundo capítulo, a partir da contraposição entre autores portugueses e brasileiros, traçamos um panorama sobre como esse objeto de estudo vem sendo conceituado. Além disso, já adentrando o território paulistano, analisamos a presença dos largos em algumas cartas históricas da cidade de São Paulo, contrapondo a jardins, praças e campos.

Os largos paulistanos são problematizados no terceiro capítulo, no qual estabelecemos algumas características morfológicas e de apropriação como sendo fundamentais para se pensar esses espaços. Após essa conceituação genérica, no quarto capítulo, apresentamos as sínteses e discussões fomentadas pelos cinco largos escolhidos como estudos de caso.

Por fim – mas que não seja encarado como um processo linear que tinha como objetivo o projeto – pensamos algumas propostas para os cinco largos estudados. Entendendo o projeto como mais um momento de reflexão sobre a experiência dos vivenciadores.

A proposta desse trabalho (a partir de um objeto – largo – propor um viés de reflexão – esfera de vida pública atual na cidade de São Paulo) resultou em dois caminhos próximos que conseguimos manter ao longo desse um ano de pesquisa. O primeiro caminho consistiu em desvendar os aspectos históricos, morfológicos e de apropriação dos largos paulistanos. O segundo caminho consistiu em criar arcabouço teórico que possibilitasse discutir a constituição da esfera de vida pública. Num trabalho final de graduação, nem um caminho nem o outro pretendem dar conta de todas as discussões propostas, nem das muitas outras que podem ser instigadas a partir deles. Trata-se de esforço de reflexão sobre questões que parecem fundamentais de serem pensadas – e vividas – na cidade.

Ao longo do percurso desse trabalho, o objeto escolhido revelou muitos aspectos: é ainda pouco problematizado; possui presença predominante na formação colonial e imperial da cidade de São Paulo; ainda está presente na cidade tanto nos bairros mais antigos como nos bairros mais novos; exercem centralidade em cada lugar. Os largos se confirmaram, sobretudo, como espaços ricos em apropriações.

A abrangência do objeto em alguns momentos se sobrepôs à temática proposta. Mas a reaproximação entre ambos os caminhos se deu justamente no trabalho de campo. A proximidade com a vida cotidiana ressaltou a relação intrínseca entre apropriações do espaço e esferas de vida. E, também em campo, os aspectos analisados e descritos como característicos dos largos (apontamentos relativos à constituição histórica, forma, dinâmica e relações de escala) se mostraram auxiliares na observação e compreensão das apropriações. Por meio dessas camadas de análise, pudemos com maior facilidade passar do todo à parte e da parte ao todo, relacionando os cinco largos estudados entre si e com a cidade de uma maneira geral.

Anteriormente, já havíamos indicado para a importância de reconhecermos todas as atividades em público como pertencentes à esfera de vida pública, sendo inclusive isso o que justifica a análise das apropriações. Porém, duas questões persistiram intensamente na tentativa de relacionar o campo à discussão teórica: como pensar a esfera de vida pública na cidade de São Paulo hoje a partir de observações das atividades mais cotidianas? O que a relação dos vivenciadores com o espaço público indica sobre a esfera de vida pública nos dias atuais?

Um aspecto muito importante da apropriação dos largos é o fato de serem espaços especialmente de fluxos. Num certo sentido, não se trata do passeio com a família no parque, ou a festa com os amigos na praça, apropriações importantes de outros espaços livres públicos. Mas, assim como as ruas, os largos são espaços do dia-a-dia, da atividade mais cotidiana, o que coloca os vivenciadores numa posição individual ao se relacionar com a cidade e com os outros cidadãos. Em certa medida, ainda que não seja a relação política ideal, é uma relação entre indivíduos, não de famílias ou outros grupos. Ouvimos insistentemente sobre o caráter de negação do outro com que todos agem atualmente nos espaços públicos, o largo nos pareceu muito mais um espaço de convívio ao invés de negação.

A forte apropriação desses espaços em alguma medida justifica essa sensação de convivência mais do que de conflito. Além disso, o alargamento que amplia as visuais torna esses espaços menos hostis e próximos à escala do pedestre. O largo é um espaço do cotidiano. Não se trata de encarar os largos como espaços especiais da cidade que fogem à lógica perversa de exclusão e mercantilização, mas de identificar neles espaços de contato, proximidade, convívio, encontros e diálogos – essenciais à esfera de vida pública tanto geral como política – que nos possibilitam um olhar mais otimista e propositivo sobre a cidade.

Trabalho disponível em: http://bit.ly/1nPaaPq

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