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secao 4!

A Criança no Espaço Urbano:

Caminhos Escolares

Marieta Colucci Ribeiro

Fábio Mariz Gonçalves

O trabalho surgiu da vontade de uma cidade melhor, mais receptiva e à escala humana. Para isso, propõe a reintrodução da criança no espaço público, tomando como primeiro passo a melhoria de seus percursos e espaços cotidianos - ou seja: o caminho entre casa e escola. A ideia é que estes percursos possam ser feitos a pé e sem companhia, e mesmo assim, com toda a segurança que um pai deseja a seus filhos. Uma cidade adequada à infância é uma cidade adequada a todos. Mais segura, mais acessível, mais alegre.

A criança, como qualquer cidadão, tem o direito à cidade: deve fazer parte de sua cultura e ser parte essencial de seu aprendizado. A criança deve poder escolher e vivenciar suas próprias experiências desde cedo, ir e vir, seguir ou parar conforme algo lhe chame a atenção, e assim, ir conhecendo o mundo onde vive. Para que todo o potencial educador da cidade seja aproveitado, os bairros devem ser pensados como uma rede de equipamentos a serem utilizados por todos: um vasto território a ser apropriado. Este território é que deve ser, em si, uma escola. O aprendizado e os ambientes educativos não devem se deter a um edifício específico e fechado, mas sim coexistir no bairro todo.

O domínio deste bairro, pela criança, significa o princípio de uma apropriação futura da cidade. E o caminho escolar está inserido neste contexto: é através dele que toda a rede se conecta. Além da simples conexão física, no entanto, são trabalhadas questões como a inserção da criança na cidade e a autonomia infantil, aparentemente já esquecidas nos dias de hoje. Para isso, é necessário o preparo e incentivo da comunidade, principalmente de pais e professores, demostrando a validade e importância do locomover diário da criança. Trata-se de um projeto coletivo no qual todos são agentes.

Toda a comunidade deve ser envolvida, desde o começo. O governo local deve promover o projeto, os pais devem reconhecer a vantagem de deixar seus filhos irem a pé, os comerciantes ser alertados de sua função como “guardiões” do caminho e as crianças, protagonistas, ser consultadas durante todo o processo. Foram estudados exemplos ao redor do mundo, principalmente na Europa, onde existem de 1990.

A partir do entendimento dos processos de melhoria urbana e de como reinserir a criança no espaço urbano, escolheu-se uma escola a ser tomada como ponto de convergência: EMEF Vila Munck. A escola apresenta diversas características que a tornam um bom objeto: trata-se de uma instituição pública, frequentada por estudantes de baixa renda; está situada às margens da Rodovia Raposo Tavares, km 19.5, região perigosa e de grande risco para pedestres; em seu entorno imediato existem vários equipamentos públicos bastante frequentados por seus alunos. Foi analisada a região num raio de 1.5km para a realização do projeto.

Nesta região, carros possuem vantagem sobre pedestres. A superioridade se dá em quase todos os espaços: nas vias expressas, mas também na maioria das áreas livres – que são ocupadas como estacionamento. As poucas calçadas existentes são estreitas e irregulares, forçando as crianças a andar pelo meio da rua. Mesmo assim, a maioria delas se locomove a pé (81%), enquanto as demais vão de perua ou automóvel particular (20%) por morarem em locais menos acessíveis. Foi importante para o projeto constatar que, daqueles que vão a pé, 24% vão sozinhos e 31% com amigos. Ou seja, 55% das crianças caminham sem a companhia de adultos. (Idealmente, todo o processo de reconhecimento do local, levantamento de inconvenientes, empecilhos, qualidades e pontos de encontro que foram feitos neste trabalho, deveria ter sido feito com o acompanhamento daqueles que efetivamente utilizarão os caminhos: os alunos).

Na região trabalhada, cruzada por uma rodovia de grande fluxo, a diretriz primeira é conseguir conectar todos os pontos levantados – EMEF, ETEC, VILA OLÍMPICA – e fazer com que os deslocamentos sem o automóvel sejam predominantes para os moradores. Essa diretriz, como muitas das demais, vale tanto para crianças como para os demais pedestres, seja a idade que tenham. De maneira geral, todos os acessos e travessias foram acessibilizados. As calçadas têm sempre a maior largura possível ao longo de um trecho e o leito carroçável apenas o mínimo necessário para a passagem de um ou dois veículos - no caso de ser via de mão única ou dupla. Sempre que possível, há uma ciclovia, permitindo a conexão do maior número de pontos também através da bicicleta.

Além das considerações em relação às vias, busca-se implementar nos passeios de pedestres as seguintes qualidades: permitir o uso de diferentes usuários; promover segurança física; possuir variedade contínua ao longo do trajeto; ser apropriado à escala humana. Foram pensados praças e pontos focais para que se criem pequenos objetivos ao longo do caminho, o que o torna muito mais agradável. No que concerne às crianças propriamente ditas, pensa-se na parte lúdica e interativa: que a experiência do caminhar seja completa, estimulada por todos os sentidos. Este aspecto é resolvido principalmente através da vegetação e dos pisos, que conferem mais cor, textura e movimento aos trajetos. A situação geral do bairro pode ser vista na imagem 007, e exemplos de intervenção em 008 a 010.

Ficou claro, no desenvolver do projeto, como são simples os mecanismos para que mudanças aconteçam. Em geral, são pequenas as alterações necessárias para criar um ambiente agradável no qual as pessoas se sintam atraídas e confortáveis, não afugentadas. As crianças não precisam de muito para se divertir e imaginar grandes cenários: a melhora do ambiente urbano depende, portanto, apenas da mudança de prioridades. Repensando partes da cidade, como feito aqui, é possível reestruturá-la inteira, progressivamente. Considerar fragmentos não significa esquecer o todo: com a amarração do território, a cidade pode ser costurada e melhorada por completo. Devemos deixar de pensar negativamente: “em São Paulo não vai dar certo”, “no Brasil nunca vai funcionar” e passar a ocupar os espaços que temos, viver a cidade plenamente.

Trabalho disponível em: http://issuu.com/marietacolucciribeiro/docs/_final

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