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secao 4!

Habitar: da cidade à moradia |

uma proposta de arquitetura industrializada para o complexo ‘nova ilha’

Tainá Cintra Prascidelli

Paulo Eduardo Fonseca de Campos

É em um contexto de elevado déficit habitacional brasileiro e da execução de um programa do governo federal, o “Minha Casa, Minha Vida”, cuja meta é diminuir consideravelmente essa carência, que desenvolvo um projeto de um complexo residencial nomeado “Nova Ilha”. Heliópolis, zona sul de São Paulo, é a região escolhida para execução deste projeto. Essa decisão se deu por conta de alguns fatores, entre eles, a alta incidência de favelas na região, a rede de infraestrutura e equipamentos públicos que ela é cercada, pelo real projeto da prefeitura de executar habitação de interesse social no mesmo terreno de intervenção deste trabalho e pela visita aos destroços da comunidade da Ilha, incendiada em Julho de 2013, localizada em frente ao sítio do projeto do complexo proposto.

No entanto, a produção em massa torna-se tanto mais difícil se pensarmos no método convencional, na medida em que se exige rapidez, redução de desperdícios, qualidade e controle tecnológico. Para atender a tais exigências deve-se considerar o emprego de sistemas industrializados de construção nas habitações populares, resultando na otimização do tempo de execução, na redução dos custos e na geração de resíduos.

A garantia da qualidade arquitetônica de uma obra se dá pela concepção da mesma sob a ótica do usuário e entendimento de suas reais necessidades. No caso de um programa nacional de habitação de interesse social, deve-se analisar especificamente cada região do país, visto que suas características físicas, geológicas, climáticas e sociais diferem umas das outras. Não existe um único modelo que se enquadrará a todas as localidades. É preciso adequar o programa e articular os diferentes métodos construtivos industrializados à realidade de cada sítio e à cultura local.

Após o estudo de alguns cojuntos habitacionais referência, visitas em campo e entrevistas, foi possível perceber algumas necessidades e as preferências da população que necessita deste tipo de programa. A relação entre os moradores é, na grande maioria harmônica, os espaços livres são apropriados e utilizados de maneiras múltiplas, as casas são bem cuidadas, as hortas, quando não presentes desde o início foram criadas, o senso de comunidade, em geral, existe e é respeitado, e quando há a participação da população na conquista e/ou execução das moradias, o afeto pelo conjunto como o todo é bem maior do que quando não há participação. A importância de manter as famílias dos assentamentos irregulares na mesma região onde vivem, quando esta é abastecida de infraestrutura, é primordial para uma boa adaptação dos moradores dos novos conjuntos. É com esta intenção que o terreno de 420,1 mil m2 abrigará, preferencialmente, às famílias da extinta comunidade da Ilha e das favelas do entorno.

Foram projetadas cerca de1650 unidades no centro habitacional da gleba, uma área esportiva com um campo de futebol, duas quadras poliesportivas, duas quadras de vôlei e uma pista de skate, uma área institucional que abrigará um centro comunitário, biblioteca, laboratórios de informática e oficinas, além de um parque com playground e equipamentos de ginástica, e praças, distribuídas ao longo de todo o terreno.

Existem 3 tipologias de edifícios que abrigam 3 tipologias de apartamentos, com 1, 2 ou 3 dormitórios. O critério adotado para implantação dos edifícios habitacionais nas 9 quadras, distribuídas ao longo do terreno, prioriza a geração de qualidades espaciais variadas, tanto em termos de morfologia arquitetônica resultante, quanto da relação entre as unidades habitacionais, os espaços públicos propostos e as vias públicas, visando dotar de identidade própria cada um destes espaços e a consequente apropriação destes pelos usuários. A implantação dos edifícios estimulará o convívio social entre os moradores e com o entorno, na medida em que permite a conexão entre o bairro e as habitações, e são responsáveis pela delimitação física dos núcleos comuns. Ao contrário das implantações rígidas, que são frequentemente utilizadas nos conjuntos habitacionais populares, este projeto prevê o diálogo entre o edifício e o espaço aberto, preservando a qualidade nas relações sociais constituídas na favela.

Ao integrar o lote ao entorno, ao dialogar com a cidade, passamos a interagir com o meio urbano, combinando, assim, o conjunto ao contexto no qual está inserido, e não se fechando para ele. Há ganho de vitalidade dos espaços públicos pela intensidade de pessoas circulando e frequentando lugares, trazendo, assim, a sensação de proximidade, de companhia, de inclusão, de compartilhamento, de vida. Ruas, praças, parques; os espaços públicos são essenciais ao bom ambiente urbano. A forma como são desenhadas e mantidas essas “salas de estar” ao ar livre, sobretudo, a sensação que a dimensão privada a ela oferece (janelas, “olhos”, permeabilidade ao invés de muros, barreiras) é determinante para a vitalidade do cenário urbano.

Como forma de organizar a extensa área do terreno de 420,1 mil m², ele foi setorizado de acordo com o posicionamento das áreas e suas características topográficas. A criação das vias e quadras foi necessária para organizar e agrupar os diferentes usos no terreno, criar conexões entre o bairro e o complexo, mesmo em pontos antes desconectados, e permitir fácil acesso aos conjuntos de cada uma das quadras. Dois tipos de vias foram implantados: uma via principal com duas mãos e ciclovia central, que conecta a parte sudeste com a parte noroeste do terreno, além das áreas vizinhas. Ortogonais a essa via principal, foram estabelecidas vias compartilhadas – carro, pedestre, bicicleta, tudo em um mesmo nível – que delimitam as quadras. A escolha por esse tipo de via permite que o acesso dos carros ao conjunto seja possível, mas, ao mesmo tempo, privilegia o pedestre e o ciclista, além de reduzir a velocidade do trânsito dos automóveis que passarem por elas, tornando a rua com uso quase que estritamente local.

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